30 de abril de 2024
Ale do Rosário
Alessandro Borges de Araújo (1988-2019), mais conhecido como Alê do Rosário, foi um ativista cultural e uma importante liderança na luta em prol das comunidades quilombolas, na musicalidade regional e na arte do Vale do Jequitinhonha e de Minas Gerais.
Desde jovem, sempre demonstrou grande interesse pelos livros, pela escrita e pelo social, o que fez com que sua família o apoiasse a continuar estudando, diferente de muitos da sua região. Esse fato, mais adiante, o tornaria uma pessoa bem articulada e de grande força, um expoente e uma voz para comunidades tantas vezes esquecidas.
Pai de quatro filhos, Alê foi Capitão da Congada de Nossa Senhora do Rosário dos Quilombolas, Coordenador Municipal de Cultura do município de Berilo, Diretor de Cultura da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais - N’Golo e um dos criadores dos Roteiros Turísticos da Rota dos Quilombos. Seu legado inclui ainda diversas outras atuações e ações efetivas em favor da juventude quilombola e das mulheres.
Além disso, Alê também articulava centenas de comunidades quilombolas, sendo responsável por monitorar os processos de regulação territorial e realizar um trabalho de base, como a conscientização sobre a necessidade de luta pelo reconhecimento enquanto comunidade quilombola e a preservação do congado, parte essencial na construção da cultura plural brasileira.
Infelizmente, em 2019, Alê veio a falecer, ainda aos 30 anos, devido a complicações renais. Uma perda imensurável para a cultura mineira e para a luta das comunidades quilombolas. No entanto, como afirma sua amiga Magda, ainda que se foi o mestre do congado, em cada território ele deixou seu legado.
SALVE ALÊ DO ROSÁRIO.
"Lá se foi a voz do cantador,
Lá se foi o sonho do sonhador,
Lá se foi a batida do tambor,
Lá se foi a alvorada da madrugada,
Lá se foi o mestre do congado.
Os quilombos choram de saudades,
Em cada território,
Deixou o seu legado.
Na batida do pandeiro,
Na cantoria,
Ao repicar o sino
Recoda nosso menino.
No batuque do congado,
No terço cantado,
Em eventos na cidade,
sinto a sua presença Alê do Rosário!
Vá, meu irmão
Alce voo,
Voe o mais alto que poder,
Cante,dance,alegre- se, faça o que quiser,
A sua espera está Jesus de Nazaré.”
Berilo, 2019
Magda C.Martucheli.
Assim, a luta de Alê do Rosário permanece e seu nome e liderança para o Congado de Nossa Senhora do Rosário e para as comunidades quilombolas que por ele foram afetadas, se convertem em força. Uma forma de demonstrar isso é a construção de uma escultura em sua homenagem, denominada “A Voz do Vale”, parte do Programa Caminhos.
O Programa Caminhos é um projeto realizado pelo CeMAIS em parceria com o MPMG, TJMG, MPT e empresas parceiras. Seu objetivo é a reintegração da população em situação de vulnerabilidade social no município de Belo Horizonte por meio do acesso ao trabalho, à arte e à cultura, desenvolvendo ações de articulação, mobilização e atuação entre a sociedade civil, a iniciativa privada e órgãos públicos.
A obra “A Voz do Vale”, dedicada a Alê do Rosário, é uma criação dos artistas Gu Ferreira e Paulo César Aguiar e foi instalada na rotatória da Rua Manoel Macedo, também conhecida como Praça Quintal da Dona Geni, no bairro Lagoinha. Construída através do esforço coletivo entre os parceiros e a colaboração de pessoas que estiveram em situação de rua, ela se torna uma forma de imortalizar a figura de Alê no Estado de Minas Gerais.
Para saber mais sobre a história e luta de Alessando Borges, ou Alê do Rosário, você conferir esse mini documentário produzido pela equipe do CeMAIS:
Créditos: Lori Figueiró
